"Bom dia António! Era um café e um mata-bicho..."
Dizia alguém torcido pela vida dura. Dura como o ferro que ajudava a fundir desde que se lembrava de ser gente. Nas mãos, eram claras as marcas dessa dureza. Entre os muitos cortes, feridas e outras marcas exteriores de dor física que se lhe reconheciam, ressaltava uma que lhe começava no interior do pulso esquerdo e terminava no começo dos dedos.
"Foi em 68 ou 69... Estávamos a fazer um molde e a ponte cedeu!!! Foi uma sorte... Pior ficou o Zé Quicas que ficou sem o braço... Oh António dá aí outro mata-bicho..."
Mas pior que a dor de fora, era o que lhe ia na alma que mais o fazia sofrer...
"Tu já viste! Anda um homem 30 anos a trabalhar para agora dizerem que tamos velhos e nos mandarem para casa?!? Então agora já não é preciso ferro? Dá mais os alugueres... António dá aí outro e mete na conta..."
Mas será que ninguém entende que a casa dele era ali? Que a vida não se pode esquecer ou apagar? Que ele preferia mil vezes morrer a ser enviado para casa como um invalido ou pior que isso como alguém que passou a vida a acreditar numa mentira?
Na altura, não percebia como era possível alguém começar a manhã a beber bagaço. Muito menos a quantidade que se consumia naquelas paragens. No entanto, com o tempo consegui encontrar algumas razões. Já não falo do hábito. Mas falo da forma de esquecer.
Dizia alguém torcido pela vida dura. Dura como o ferro que ajudava a fundir desde que se lembrava de ser gente. Nas mãos, eram claras as marcas dessa dureza. Entre os muitos cortes, feridas e outras marcas exteriores de dor física que se lhe reconheciam, ressaltava uma que lhe começava no interior do pulso esquerdo e terminava no começo dos dedos.
"Foi em 68 ou 69... Estávamos a fazer um molde e a ponte cedeu!!! Foi uma sorte... Pior ficou o Zé Quicas que ficou sem o braço... Oh António dá aí outro mata-bicho..."
Mas pior que a dor de fora, era o que lhe ia na alma que mais o fazia sofrer...
"Tu já viste! Anda um homem 30 anos a trabalhar para agora dizerem que tamos velhos e nos mandarem para casa?!? Então agora já não é preciso ferro? Dá mais os alugueres... António dá aí outro e mete na conta..."
Mas será que ninguém entende que a casa dele era ali? Que a vida não se pode esquecer ou apagar? Que ele preferia mil vezes morrer a ser enviado para casa como um invalido ou pior que isso como alguém que passou a vida a acreditar numa mentira?
Na altura, não percebia como era possível alguém começar a manhã a beber bagaço. Muito menos a quantidade que se consumia naquelas paragens. No entanto, com o tempo consegui encontrar algumas razões. Já não falo do hábito. Mas falo da forma de esquecer.
Melhor dito a forma de recordar. Recordar que ainda se existe. Recordar os que ainda cá estão. Recordar os que estiveram. E claro recordar o futuro que não existirá...
Obviamente que Homens assim não se compram nem se vendem!
Obviamente que Homens assim não se compram nem se vendem!
1 comentário:
Parabéns,
quando queres escreves umas coisas, sim senhor! Se o nível da escrita continuar a progredir desta forma qualquer dia serão milhões os leitores ansiosos...
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