segunda-feira, 30 de março de 2009

Na tua varanda


Como será estar na tua varanda?

Na tua varanda o sol nasce.
Na tua varanda o rio corre.
Na tua varanda os pássaros voam.

Como será pertencer a tua varanda?
Na tua varanda os sonhos começam.
Na tua varanda as lágrimas secam.
Na tua varanda o prazer termina.

Como será escutar na tua varanda?

Na tua varanda a vida continua.
Na tua varanda o olhar fixa.
Na tua varanda a realidade volta.

Como será ficar na tua varanda?

Na tua varanda a solidão aperta.
Na tua varanda o coração desperta.
Na tua varanda a emoção liberta.

Como será sair da tua varanda?

Na tua varanda sonho acordado.
Na tua varanda amo odiando.
Na tua varanda sofro sorrindo.

Como será perceberes a tua varanda?

Na tua varanda pensas demais.
Na tua varanda gritas silencio.
Na tua varanda choras sozinha.

Como será amar na tua varanda?

domingo, 29 de março de 2009

Os pássaros de Timor


Tinha chegado a hora de partir.

Passados todos aqueles meses na ânsia de ajudar. Sentia-se cansado e desiludido. Apesar de no último Inverno lhe ter surgido uma espécie de alma nova, os velhos medos, receios, ideias feitas e conspirações tinham levado a melhor.

Enquanto navegava na Baía de Dili, olhava as montanhas e imaginava todos os desafios que teve de suportar.

Timor tinha sido apenas mais um.
Apenas mais uma cicatriz.
Apenas a mais recente.
Apenas mais uma dor.
Ao fim daquele tempo, não tinha sido nada de novo na sua vida. Queria acreditar que não se importava mas sentia que aqueles olhares não podiam ser falsos mas provavelmente eram.

Esse sentimento por Timor era trazido pelos pássaros. Tão livres, mas no entanto tão frágeis. Tão felizes, mas no entanto tão inconscientes.

Enquanto em Timor tinha tentado alcançar um pássaro. Fazer dele o seu companheiro. Afinal também ele procurava a liberdade e a felicidade. No inicio do Inverno tinha conseguido encontrar esse pássaro querido. Não o tinha comprado, nem tinha sido preciso nenhuma armadilha. Alcançou-o pelo respeito e pela forma amorosa que o tratou.

Identificava como tendo sido esse o momento inicial da sua nova alma. Não o sentia "seu". Estranhamente sentia que era mais o pássaro querido que o tinha a ele do que o contrario.

Sempre que podia ficava só a olhar para ele. Admirava-o. Idolatrava-o.

Sentia-se nas nuvens quando estava com ele.
Sentia-se feliz como uma criança que descobre um novo brinquedo.
Sentia-se estúpido como o primeiro amor de adolescente.
Sentia-se arrebatado como apenas Deus consegue fazer sentir.

Apesar de não ser o mais bonito dos pássaros, enfeitiçava-o duas características físicas do seu companheiro. A primeira, os olhos esculpidos numa qualquer pedra preciosa, perfurantes no seu alcance e tão únicos. A segunda, a certeza dos seus movimentos, não cometia deslizes, sabia exactamente como se comportar para endoidecer quem o via.

Acreditou que esse pássaro querido era especial e que ele era especial para ele. Tratou-o e foi tratado por ele. Abrigou-o nas noites de chuva e deu-lhe força para que ele nunca deixasse de ser como era.

Durante os meses desse Inverno actuou e pensava exclusivamente nele. Esperava que aquele Inverno nunca acabasse.

Mas chegou a Primavera. Com a chegada da Primavera, os cantos dos outros pássaros começaram a ouvir-se. O pássaro querido nem hesitou e voltou num ápice para os seus. Aqueles que lhe começaram por dizer "eu disse-te que nenhum humano presta" "eles só te querem prender" e "nós é que te ajudamos".

Ele nesses meses tinha adquirido o dom de perceber a linguagem dos pássaros. Sentia a alma a ser ferida. Não pelo canto dos outros pássaros, mas sim pelo facto do seu pássaro querido, aquele que a quem ele tinha dedicado o esforço no ultimo inverno, acreditar em tanta mentira.

Era fácil de entender a decisão final do pássaro querido: em toda a sua vida tinha acreditado em mentiras porque teria agora de ser verdade? É sempre mais fácil acreditar na mentira tornada verdade pela divulgação do que arriscar no estranho desconhecido.

Era essa a razão de deixar Timor. Aqueles pássaros continuavam a cantar "eu disse-te..."

Enquanto navegava na Baía de Dili, apenas esperava que o seu pássaro querido lhe viesse dizer que aquele tinha sido o melhor Inverno da sua vida e que gostava muito dele...

Mas ele não veio!

quinta-feira, 26 de março de 2009

Desabafos

Porque a mim ninguém me verga.
Porque não acredito que mil mentiras valham mais que uma verdade.
Porque consigo dormir à noite.
Porque acredito na justiça divina.
Porque aqueles que realmente gostam, gostam mesmo.
Porque aqueles que não gostam, não são importantes.
Porque acredito no homem novo.
Porque se estou bem, não preciso de ficar melhor.
Porque o meu melhor não pode ser o pior de ninguém.
Porque "ser" é mais importante do que "ter".
Porque a ambição maior é melhorar a vida dos outros.
Porque os lugares só são importantes se os merecermos.
Porque as pessoas só são importantes se as respeitarmos.
Porque a minha palavra vale mais que mil escritos.
Porque as boas recordações são melhores que os arrependimentos.
Porque só deixa saudade quem faz falta.
Porque só há paz se houver guerra.
Porque só há amor se houver ódio.
Porque cada nascimento significa uma vida.
Porque cada vida é uma oportunidade.
Porque cada oportunidade deve ser aproveitada.
Porque importantes são as crianças.
Porque eu sou o orgulho dos meus pais.
Porque os meus pais mereceram esse orgulho.
Porque quero ser o melhor homem que conseguir.
Porque há sempre alguém que diz não!
Porque o caminho mais fácil é sempre o pior.
Porque amanhã o sol nasce.
Porque serei sempre assim?
Porque sim!

quarta-feira, 18 de março de 2009

O dia depois de Megadeth



O dia depois é sempre difícil.

As dores no pescoço são insuportáveis. Os ouvidos parecem que estão cheios de água. A cabeça prepara-se para explodir.

Somos nós os fãs, os head bangers, os moshers, os true metal maniacs que sofremos no dia a seguir.

Somos nós que somos tratados como drogados cabeludos, revistados melhor à entrada do que se fossemos visitar o maior criminoso preso.

Mas somos nós que mostramos com orgulho os nossos símbolos. Nunca nós renderemos e nunca morreremos. Somos eternos. E estamos sempre lá.

Ontem lá estivemos.

Claro que os Testament e os Judas Priest estiveram muito bem, mas para mim Megadeth é que era.

Confesso que estava com algum receio que não fosse grande coisa (comparado com os outros Megadeth que já vi). As razões para este sentimento tinha várias fontes: os últimos álbuns, as alterações da formação, os alinhamentos que vi dos concertos, etc.

Quando o Sr. Mustaine entrou e começou o Sleepwalker o som não me pareceu estar nada do outro mundo. Despachada uma entrada com uma música que, claro é muito boa, mas na minha opinião não o suficiente para abrir um concerto de Megadeth, começou o espectáculo.

Wake Up Dead seguido de Take No Prisoners, dois clássicos dos álbuns Peace Sells e Rust in Peace, antecederam o extraordinário A Tout Le Monde.

Toda a gente gritou

A tout le monde
A tout les amis
Je vous aime
Je dois partir

Nesta altura o Sr. Mustaine parou e falou pela única vez ao público. Disse:

"Há muito tempo que não vínhamos a Portugal, temos 42 minutos e temos muito para tocar...

A próxima música chama-se Skin 'O My Teeth"

Im not trash any longer
That that doesnt kill me
Only makes me stronger

Neste momento, o meu pescoço já só abanava imparavelmente. Os saltos, os gritos das letras já só pensava em Megadeth.

Tudo o resto não existia, eu era livre novamente. Sentia-me novamente no 54 com os meus phones.

Quando começou o verdadeiro manual de Thrash Metal que é She Wolf, a minha cabeça já não existia.

One look in her lusting eyes
Savage fear in you will rise
Teeth of terror sinking in
The bite of the she-wolf

Mal terminou, começa a intro de In My Darkest Hour. Uma das musicas mais importantes da minha vida. Já falei sobre ela antes.

Loneliness is not only felt be fools

Esta frase... dá-me volta à cabeça!

Depois desta sequencia, a descarga de energia continua Symphony Of Destruction

You take a mortal man,
And put him in control
Watch him become a god,
Watch peoples heads aroll

Seguido de Sweating Bullets

Some day you too will know my pain,
And smile its blacktooth grin.
If the war inside my head
Wont take a day off Ill be dead.

Neste momento, o pavilhão estava rendido ao Sr. Mustaine. Podia fazer o que quisesse. E ele quis continuar na procura da loucura total.

A grande malha Hangar 18 foi o que se seguiu no menu

The military intelligence
Two words combined that cant make sense

Já todos esperavam pelo final que só podia ser o Hino de uma juventude Peace Sells.

What do you mean, I dont believe in god?
I talk to him every day.
What do you mean, I dont support your system?
I go to court when I have to.
What do you mean, I cant get to work on time?
I got nothing better to do
And, what do you mean, I dont pay my bills?
Why do you think Im broke? huh?

Foi o êxtase! Megadeth, Megadeth gritávamos todos esperando pelo mais que merecido encore.

Mustaine volta, apresenta James Lomenzo no baixo, Chris Broderick na guitarra e Shawn Drover na bateria.

Dispara Holy Wars

Brother will kill brother
Spilling blood across the land
Killing for religion
Something I dont understand

Agradece, mostra a bandeira de Portugal com Megadeth escrito e vai embora.

Obrigado, volta sempre!

São estas as razões que fazem com que o dia a seguir valha a pena.

domingo, 15 de março de 2009

O gelado de Deus

- Papá, porque é que as montanhas têm neve?

Sabes filho, as montanhas são muito grandes e altas. É como se fossem as chaminés da fabrica de chocolate. Só que estas fabricas em vez de fazerem chocolate, fazem gelado. É por isso que as montanhas são tão altas. Porque é onde Deus faz os gelados para o seu filho o menino Jesus.

- É papá?

É. No Inverno, Deus faz muito gelado e enche as montanhas de neve. Depois quando vem o Verão, ele deixa o menino Jesus comer gelado e a neve desaparece.

- O menino Jesus é como nós, só come gelado no Verão?

É. Todos os meninos só comem gelado no Verão. Todos os meninos são como o menino Jesus.

quarta-feira, 11 de março de 2009

Megadeth

Provavelmente a banda que mais gosto. Mais que Metallica e mais que os Xutos.

O Pai do Thrash Metal Mr. Dave Mustaine 17 Março volta a Portugal. Imperdivel!

Mais um daqueles que quando acabar são mais as que não tocou do que as que tocou...

True Brothers of metal are always there!!!

Esta ele não toca de certeza mas a letra diz tudo sobre a minha mente...

Theres a secret place I like to go
Everyone is there but their face dont show
If you get inside you cant get out
Theres no coming back, I hear them shout

Welcome to my hide away, my secret place
How I arrived I cant explain
Youre welcome to, if you want to stay
But everyone just runs away
Let me in, get me out
Cant do more then twist and shout
Lost my soul without a trace
Found it again in my secret place
In discrace

I hide from those that try to find me
Scary things thats right behind me
I lost myself, I must confess
I cant explain how I got this mess

sábado, 7 de março de 2009

José Eduardo Martins ou pioneirismo em acção

Este post é dedicado inteiramente a José Eduardo Martins. Para mim um herói do nosso tempo, um pioneiro.


Finalmente alguém se dirige a um deputado e o manda para onde todos nós os queremos mandar. O facto de o próprio o ser, ainda torna o gesto de maior nobridade.


É bonito!


Tal como um verdadeiro D. Afonso Henriques, José Eduardo ergue-se vindo do nada e comete um acto histórico que marcará a vida do nosso país.


Aliás seguindo as pisadas do nosso fundador, José não teve qualquer receio da maioria e tal como o nosso primeiro Rei resolveu com a mãe, também ele resolveria a coisa "lá fora".

O acto é ainda mais heróico pois se a coisa desse para o torto, não vejo ninguém na lista de deputados do PSD que fosse homem suficiente para se chegar à frente e dar o corpo ao manifesto pelo Zé...






Vendo bem, a lista de deputados do PSD, se calhar o deputado com mais, digamos e citando Graeme Souness "Balls" para "resolver a coisa lá fora" ainda deve ser a Zita Seabra.

Sim, sem duvida. Zita é o deputado mais macho do PSD!

Eu lanço desde já a proposta para que o Zé Eduardo avance para líder do PSD, para poder mandar o primeiro para o mesmo sitio...




domingo, 1 de março de 2009

Esquerda (por Saramago)


Temos razão, a razão que assiste a quem propõe que se construa um mundo melhor antes que seja demasiado tarde, porém, ou não sabemos transmitir às pessoas o que é substantivo nas nossas ideias, ou chocamos com um muro de desconfianças, de preconceitos ideológicos ou de classe que, se não conseguem paralisar-nos completamente, acabam, no pior dos casos, por suscitar em muitos de nós dúvidas, perplexidades, essas sim paralisadoras. Se o mundo alguma vez conseguir ser melhor, só o terá sido por nós e connosco. Sejamos mais conscientes e orgulhemo-nos do nosso papel na História. Há casos em que a humildade não é boa conselheira. Que se pronuncie bem alto a palavra Esquerda. Para que se ouça e para que conste.

Escrevi estas reflexões para um folheto eleitoral de Esquerda Unida de Euzkadi, mas escrevi-as pensando também na esquerda do meu país, na esquerda em geral. Que, apesar do que está passando no mundo, continua sem levantar a cabeça. Como se não tivesse razão.

in http://caderno.josesaramago.org/2009/02/24/esquerda/

Permiti-me a copiar estas palavras.
São só isso mesmo.
Palavras para se manterem na memória.