domingo, 29 de março de 2009

Os pássaros de Timor


Tinha chegado a hora de partir.

Passados todos aqueles meses na ânsia de ajudar. Sentia-se cansado e desiludido. Apesar de no último Inverno lhe ter surgido uma espécie de alma nova, os velhos medos, receios, ideias feitas e conspirações tinham levado a melhor.

Enquanto navegava na Baía de Dili, olhava as montanhas e imaginava todos os desafios que teve de suportar.

Timor tinha sido apenas mais um.
Apenas mais uma cicatriz.
Apenas a mais recente.
Apenas mais uma dor.
Ao fim daquele tempo, não tinha sido nada de novo na sua vida. Queria acreditar que não se importava mas sentia que aqueles olhares não podiam ser falsos mas provavelmente eram.

Esse sentimento por Timor era trazido pelos pássaros. Tão livres, mas no entanto tão frágeis. Tão felizes, mas no entanto tão inconscientes.

Enquanto em Timor tinha tentado alcançar um pássaro. Fazer dele o seu companheiro. Afinal também ele procurava a liberdade e a felicidade. No inicio do Inverno tinha conseguido encontrar esse pássaro querido. Não o tinha comprado, nem tinha sido preciso nenhuma armadilha. Alcançou-o pelo respeito e pela forma amorosa que o tratou.

Identificava como tendo sido esse o momento inicial da sua nova alma. Não o sentia "seu". Estranhamente sentia que era mais o pássaro querido que o tinha a ele do que o contrario.

Sempre que podia ficava só a olhar para ele. Admirava-o. Idolatrava-o.

Sentia-se nas nuvens quando estava com ele.
Sentia-se feliz como uma criança que descobre um novo brinquedo.
Sentia-se estúpido como o primeiro amor de adolescente.
Sentia-se arrebatado como apenas Deus consegue fazer sentir.

Apesar de não ser o mais bonito dos pássaros, enfeitiçava-o duas características físicas do seu companheiro. A primeira, os olhos esculpidos numa qualquer pedra preciosa, perfurantes no seu alcance e tão únicos. A segunda, a certeza dos seus movimentos, não cometia deslizes, sabia exactamente como se comportar para endoidecer quem o via.

Acreditou que esse pássaro querido era especial e que ele era especial para ele. Tratou-o e foi tratado por ele. Abrigou-o nas noites de chuva e deu-lhe força para que ele nunca deixasse de ser como era.

Durante os meses desse Inverno actuou e pensava exclusivamente nele. Esperava que aquele Inverno nunca acabasse.

Mas chegou a Primavera. Com a chegada da Primavera, os cantos dos outros pássaros começaram a ouvir-se. O pássaro querido nem hesitou e voltou num ápice para os seus. Aqueles que lhe começaram por dizer "eu disse-te que nenhum humano presta" "eles só te querem prender" e "nós é que te ajudamos".

Ele nesses meses tinha adquirido o dom de perceber a linguagem dos pássaros. Sentia a alma a ser ferida. Não pelo canto dos outros pássaros, mas sim pelo facto do seu pássaro querido, aquele que a quem ele tinha dedicado o esforço no ultimo inverno, acreditar em tanta mentira.

Era fácil de entender a decisão final do pássaro querido: em toda a sua vida tinha acreditado em mentiras porque teria agora de ser verdade? É sempre mais fácil acreditar na mentira tornada verdade pela divulgação do que arriscar no estranho desconhecido.

Era essa a razão de deixar Timor. Aqueles pássaros continuavam a cantar "eu disse-te..."

Enquanto navegava na Baía de Dili, apenas esperava que o seu pássaro querido lhe viesse dizer que aquele tinha sido o melhor Inverno da sua vida e que gostava muito dele...

Mas ele não veio!

1 comentário:

Anónimo disse...

Em timor não se perdem os passaros, em timor os passaros encontram-se na baia de Dili, sobrevoam juntos a costa de mantutu, onde o mar e as montanhas se fundem e atingem alturas impensáveis nos montes de matebien. Os passaros quando querem voar juntos, voam para lá de timor