quarta-feira, 27 de novembro de 2013

Sol de Inverno

Abriu a janela num dia como outro qualquer. Abriu a janela e inspirou. "As coisas são assim, voltam a acontecer", pensava. Sentia se feliz. Gostava do Inverno, do frio, não tanto da chuva mas do frio. Fumar um cigarro no Inverno era bom. Muito melhor que em qualquer outra altura do ano. Sentia o calor da vida a entrar pelo peito dentro em cada inspiração de fumo que dava. Evidentemente que grande parte do mundo o criticava por essa acção. 

A primeira acção de cada dia de Inverno. Abrir a janela e inspirar o fumo de um cigarro. "Como é que algo tão bom pode fazer mal?" eram alguns dos pensamentos que lhe ocorriam quando o mundo o pressionava. Estava habituado à pressão. Era apenas mais uma ovelha no rebanho, sem grande diferença de qualquer outra ovelha ou de qualquer outro rebanho. Nunca tinha ambicionado ser muito mais do que isso e não compreendia quando alguma ovelha queria ser o cão de guarda ou mesmo (ambição suprema) o próprio pastor. Fumar era o que mais gostava. Especialmente com frio. Isso sim era uma verdadeira ambição. Fumar em todos os dias frios desta vida. Às vezes pensava que o paraíso não podia ser quente. Não fazia sentido um local chamar se paraíso sem possuir aquele prazer. 

Como sempre, certo dia aconteceu o que tinha de acontecer. Alguém supostamente mais conhecedor que ele deu lhe a escolha final. Para ficar por aqui mais uns tempos era imperioso parar. Se a pressão do mundo já era grande, a partir daí foi avassaladora. "Tens de", "Tens de", "Tens de" era o que ouvia em todo o lado. Como o coro mais afinado de Viena, assim os seus ouvidos escutavam à sua volta. Aquilo mexe, claro que mexe, esforçou-se, entrou em luta contra si próprio, convenceu-se que venceria essa luta. Como se fosse possível alguém ganhar a si próprio.

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