Enquanto aquela guitarra tocava os solos mais maravilhosos que alguma vez se ouviram, pensava nos momentos que mais um atribulado dia lhe tinham trazido. Aquele dedilhar fantástico, colocava-o tão perto do céu de tão perfeito que soava. Afinal, ainda havia momentos de paz e de compreensão interna.
Escutava ou melhor sentia e saboreava ou melhor comungava aquele uísque com gelo e água enquanto inspirava o sopro do seu cigarro e pensava...
Pensava na guitarra. Pensava em todas as guitarras que já tinha ouvido, em todas as notas que já lhe tinham sido apresentadas. Pensava no uísque, em todos os copos que bebeu, em todas as pedras de gelo que já tinha derretido. Pensava que no presente todos e todas lhe sabiam ao mesmo. Pensava como seria bom ter um sabor diferente. Não queria que lhe soubesse melhor, sabia ser impossível saber melhor. Só queria ter um sabor diferente.
Inspirava o cigarro como se a sua vida dependesse disso. Os dedos, como tudo o resto em si, queimados pelo hábito de não deixar nada por fumar nos cigarros e na vida. Os dedos tão queimados como a alma que tentava enevoar com o fumo inspirado. Sabia que seria o seu fim aquele vício, mas não se preocupava. Afinal é mais fácil saber do que será o nosso fim do que deixar isso nas mãos do destino ou mesmo de algo tão superior como Deus ou uma mulher.
A guitarra... De platina, brilhava como nenhuma outra. Parecia que no meio do fumo, as notas encontravam o caminho certo para a sua alma. Fazia do uísque o fio condutor de tão maravilhosa convivência entre ele e o ser que gostava de ter sido.
No entanto, sabia que aquela perfeição interior terminaria e voltaria à realidade do seu ser. Nesse momento, voltaria a procurar numa mulher qualquer comprar amor com dinheiro. Afinal o dinheiro compra tudo e nada o consegue vencer. Nem mesmo o amor... Era essa a sua fé!
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