quinta-feira, 14 de maio de 2009

Quando alguém nos ouve

Caros leitores assíduos

O giro da vida é sabermos que afinal há verdades que não mudam e mentiras que perduram. Quando percebemos que alguém nos liga, nos tenta interpretar sentimo-nos importantes, únicos. Afinal, eu sempre soube que estavam por aí.


Gosto muito de jogar. Gosto muito de jogar às cartas. Todo o tipo de jogo mas os que nos fazem pensar mais do que os jogos de pura sorte. Faço isso desde que me lembro de existir. Lembro-me do meu pai a jogar, de aprender com ele.


Apesar desse gosto continuo a não conseguir jogar às cartas com o mesmo prazer. O meu baralho preferido continua incompleto. Certamente que jogo com outros baralhos, noutras mesas mais ou menos aveludadas e mais ou menos ricas faz parte da minha vida quotidiana.

Claro que sei me convencer que com o baralho actual, os naipes saem de acordo com as expectativas e correspondem ao que sempre esperei. A lógica de saída da mão sair é sempre igual. O trunfo não se altera, não há renuncias nem cortes inesperados.

No entanto, aquela forma de jogar, o gozo, o prazer imenso que aquele baralho me dava, mias nenhum me dará. O toque suave das cartas, o desenho dos símbolos, a perfeição do recorte e a impressão, a qualidade da impressão era deslumbrante. Tenho a certeza que ficará impresso sempre com a mesma forma e com o mesmo deslumbre.

Infelizmente esse baralho ficou incompleto. Certamente não se completará jamais. Perdi a carta mais importante pelo caminho.





4 comentários:

Rita disse...

Entre outras coisas também te ensinaram a guardar o jogo perto do peito e que um duque pode ser tão essencial como um ás... as cartas mais importantes nunca se perdem, os baralhos nunca estão incompletos, desde que no nosso valorizar de determinada carta não acabemos por ficar «secos», não percebendo o valor de todas as cartas e todos os baralhos que o jogo da vida nos apresenta.
É sempre um prazer ouvir-te e gostei muito da imagem!

Anónimo disse...

o bom é que jogaste! estiveste sentiste viveste

agora simplesmente jogas

Anónimo disse...

O bom de tudo na vida é o inesperado, porque o esperado é mais do mesmo, porque a surpresa é inesperada, porque o amor é inesperado, porque o arrepio não é expectavel em noites de primavera, porque. Eu sou a favor do inesperado, é nessa altura que se mede a capacidade de reacção, é nessa altura que os olhos não mentem é nessa altura .... o jogar com cartas já conhecidas que saem sempre da forma esperada é tão bom como ficar na zona de conforto ou tão mau como nunca sair dela ...

Sara disse...

No princípio, somos todos iguais.
Depois começamos a jogar...
Alguns precisam pagar sem ver as cartas, para poder jogar… Outros têm-nas de mão beijada, e só depois decidem se querem apostar…
Cada um faz com elas o que conseguir, alguns de acordo com os seus principios, outros nem por isso mas todos jogam.
Não podemos deixar de jogar porque no momento que o fazemos é sinal que já cá não estamos. o necessário é mudar a forma como encaramos esse jogo e como o fazâmos. Depois... depois é aproveitá-lo ao máximo.