Passeava pelos cantos da minimal existência que carrego em cima dos ombros, quando alguém que consegue comunicar comigo me dizia "porque?". Ficou cá dentro a picar essa expressão ou pelo menos picava nos intervalos das picadas sem importância nenhuma com que me vão picando a existência.
"Porque" é que não escreves sobre a realidade? e "Porque" é que escreves sem significado nenhum?
A realidade? mas como?
A realidade é triste, redonda, injusta, infeliz, estúpida, egoísta e acima de tudo insensível. A realidade não existe. Como poderia escrever sobre essa realidade? Num mundo em que há mais do que suficiente para todos e muitos temos muito mais do que alguma vez precisaremos enquanto muitos mais outros nunca terão sequer hipóteses de ser. Que vergonha! Tenho vergonha de estar nesta realidade.
Num país em que os temas são ferros velhos, casamentos gays, escutas e outros temas mais ou menos alucinogénios. Queres que escreva sobre isto? não quero, não posso, não consigo.
Numa existência em que se premeiam os falsos, em que se promove a mentira, em que se esquece o amor, em que se torturam as pessoas, em que se mata a imaginação, queres que escreva sobre isto?
Não!
Prefiro escrever sobre amor, paixão, partilha, momentos de felicidade, ser único, ser especial. Sobre estrelas e flores, sobre sol e lua, sobre respiração ofegante, sobre o dizer "pára" para continuar, sobre o imaginar a aventura seguinte, sobre o estar juntos, sobre os sentidos, sobre o que sentes, sobre o que sinto, sobre "o amor e uma cabana", no fundo sobre tudo o que me enche a imaginação.
Para ti que gosto de desafiar, por ti que me fazes ir mais longe, não é sobre isto que devíamos procurar encontrar o caminho certo?
Para ti que gosto de desafiar, por ti que me fazes ir mais longe, não seria isto que procurávamos?